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gangues de nova iorque ->se for ver o filme, não leia este post. assisto gangues de nova iorque na mesma sala onde, menos de um ano atrás, vi praticamente sozinho waking life. obviamente a sala estava lotada agora. quase três horas de duração. daniel day-lewis, di caprio e cameron diaz. martin scorcese. então tá, né? desde os traillers já percebi que gangues de nova iorque sofria de um certo "complexo de moulin rouge": necessidade de caricaturizar a representação histórica. acontece que scorcese não é um cara de sutilezas e erra grotescamente a mão, fazendo um mad max retrô. a mulher-gato, o durão solitário, o judas, as armas absurdas, o estilo sujo-despojado-cool-remendos, o exagero, o horror e the humanity. a distribuição das gangues é cuidadosamente explicada e o Pastor arrebanha várias tendências sob seu cajado e unifica os ideais, representatividade democrática legítima. Essa divisão em grupos tão cuidadosa, essa fascinação pelo mundo do crime do scorcese tem lá seu sentido, quando ele fala de gangsteres ou do mundo contemporâneo. infelizmente ele é tosco em sua representação de época. infelizmente o roteiro é chato demais, o édipo é superficial demais, o perdão à judas empalado, a frustração da vitória democrática e o fim de tudo, por coincidência de um movimento que ocorria fora do universo de cinco pontas, tragados pelo exército que atacava os civis rebeldes. acaso, puro acaso. mas fica tudo explicado demais, explícito demais, a profundidade da honra do daniel day-lewis, é necessário respeitar seu adversário, resgata o vilão tentando fazê-lo mais interessante do que realmente é, verniz de perspectiva que de fato, não esconde o maniqueísmo rastaquera que é a afirmação moral última desse filme. e de qualquer jeito, quem resolve o conflito religioso é o exército. acho que o scorcese ficou meio com medo de fazer uma afirmação moral clara então ele se escondeu criando justificativas para todos os atos, (o único vilão completamente mal são os políticos) então ele fica nessa ambiguidade covarde por conta da situação pós-9/11 e pré- ali-babá e os 40 marines. de certa forma ele glorifica os líderes violentos, que acreditam nos seus ideais, e justifica essa violência a partir da intolerância vs. necessidade de afirmação da identidade. mas também diz uqe, no final, esses líderes morrem e são idênticos (martin deve ter lido borges) quando silenciados. mas morrem in a blaze of glory, massacrados em nome de uma democracia urgente, uma revolta popular contra os privilégios dos ricos que é reprimida pelo próprio exército do país. martin é um meio lula aqui: ele se coloca, em última análise, contra a exploração criminosa da miséria. contra a situação que aqueles irlandeses viviam, condições sub-humanas. esperto ele, assim como lula, ele declara um ideal tão óbvio e inequívoco que é impossível discordar. Lula disse que sua prioridade era erradicar a Fome. quem pode ir contra? nem mesmo CEOs ciborgues podem dizer "sou a favor da fome". nem mesmo o preparador físico de bush júnior pode dizer ser a favor da exploração cruel de estrangeiros.
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