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trabalho na frança como Game Designer. aqui conto historias que acho interessantes. os assuntos sao geralmente cinema e video games mas nao apenas. de forma alguma.


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Douglas Sirk, diretor preferido do Fassbinder, fazia filmes água com açúcar como ninguém. A bicha do Rock Hudson era o cara durão de classe baixa que era tão bacana que a aristocrata nÃo resistia ao seu manly charm. Apesar de "imitação da vida" cutucar a questÃo racial, vá lá, era pré-hippie, pré-revolução sexual, os filmes de Sirk eram românticos. Constrangedoramente românticos, onde a sociedade e suas normas se impunha sobre os amantes. Estes eram trágicos e desesperadamente apaixonados. Os filmes eram, porém, de extremo bom gosto, narrativa clássica: a mulher só se encontrava com o jardineiro "lá fora", nas plantas, ela era livre, a cor era linda, o fundo era verde, amarelo, laranja exuberante e ela era livre. Com o marido é só o "lá dentro", de uma casa muito asseada mas opressora. Os diálogos eram maravilhosos, sutis, insinuantes, cheios de duplo sentido e uma resignação honrada para aceitar o jogo. Mas a grande questao era, sempre, o Amor, o Amor romântico, idealizado, byroniano, de Keats, Shelley, Shakespeare e Notting Hill. Ele era o foco principal, e seus obstáculos vinham de todo lugar, dos filhos, dos amigos, da sociedade, enorme e sem face.
Daí o Todd Hayne fez um filme do Douglas Sirk em "Longe do Paraíso". Tudo está lá: a época, o Amor, a sutileza, a narrativa. Porém, ele fez algumas mudanças: Rock Hudson, agora, é negro. E o homossexualismo também entra na roda como fonte de repressao e desentendimento. As pessoas nao gostam do que sao, se sentem culpadas por seus sentimentos. Mas Haynes coloca muita culpa na história, ele move o foco do Amor para o Preconceito. E nao fala do que se deve FAZER mas do que se deve EVITAR. Ele nao diz SIM ele diz NAO. É uma pena. Todo o resto maravilhoso do filme é roubado do Sirk, tudo de ruim, foi o que o Haynes mudou. A mudança de foco é sutil e aparece apenas nas entrelinhas, mas está lá, rebolando sua bunda gorda de gretchen em prol das minorias onguianas.