quem que onde como

trabalho na frança como Game Designer. aqui conto historias que acho interessantes. os assuntos sao geralmente cinema e video games mas nao apenas. de forma alguma.


archives

altri:

ask the dust
carrinho no pescoco
consultorio do dr miranda
escrotorio
man living by some law
o sublime e o ridiculo
pastelzinho


shoot back

Site Meter

This page is powered by Blogger.

Existem diretores que passeiam por gêneros. Que, de um filme para outro, mudam completamente de assunto, de abordagem, de gênero e de estética. Ridely Scott, Joel Schumacher, o cara do ?Y tu mama tambien? (que está fazendo, ou fez, um Harry Potter) Robert Rodriguez, Chris Columbus, Peter Jackson e outros. Eles são coringas, se dão bem em Hollywood, são trabalhadores de uma indústria.
Ao lado disso vemos o cinema de autor; diretores que possuem uma marca pessoal indelével, que reconhecemos logo na primeira cena. Esta marca pessoal pode ser desde ordem estética (Fellini, Lynch, Burton, Capra, Lubitsch) até ideológica (Kubrick, Pasolini). Esses diretores tendem a ser mais respeitados pela inteligentsia que os diretores-operários. Eles tendem, obviamente, a ser mais seletivos e cuidadosos com o processo de criação, possuem agendas pessoais e, sobretudo, propostas e objetivos que visam atingir com cada filme. Pessoalmente, respeito e admiro ambos os tipos.
Mas agora, cinema de autor, não significa necessariamente, cinema de qualidade. Temos o gritante caso do Lars Von Trier. O Lars devia ser apedrejado em praça pública. Atrás de brincadeiras estéticas; a aparência de video-cacetada dos Dogma, o musical de Hollywood em Dançando no escuro e o teatro filmado de Dogville. No fundo, ele é um deprimido implorando por tratamento. As trajetórias de seus heróis são as mais patéticas. São sistematicamente oprimidos pela sociedade. Erram no caminho da felicidade e, por inércia, são jogados num inferno na terra. Eles não lutam (violentamente) contra essa sociedade (rambo), eles não questionam suas maneiras (kubrick, bergman), eles não se rebelam em silêncio ou tentam, de alguma forma, vencer os infotúrnios (cabíria, gandhi). Enfim, são bovinos: aquiescem diante da sociedade-chicote.
Vi em Dogville uma releitura da paixão de cristo. Ms Kidman é Jesus, Dogville é a Terra, seus habitantes são os homens, seu pai é Deus e os capangas os anjos vingadores com espadas de fogo. Esteticamente é interessante. INTERESSANTE não quer dizer bom. É interessante um musical de Hollywood deprimente, é interessante um filme feito sem trilha sonora e sem tripé (bruxa de blair utiliza melhor o mesmo sistema) e é interessante um funcionário do zoológico escorregar e enfiar a cabeça no cu do elefante.
Mas voltando ao pessimismo estéril do Von Trier. O drama "indivíduo vs sociedade" é um assunto interessantíssimo. Filmes deprimentes são ótimos. Bergman fez filmes cujos temas são reflexões sobre a condição humana, a memória, a morte, o amor, o encontro, a precariedade de nossas relações mais íntimas, a solidão, blablabla. Seus personagens se movem, tentam encontrar respostas, tentam achar soluções, tentam. Kafka faz seu Joseph K lutar contra um mundo misterioso e dominador, Samsa virou um inseto e ainda assim, se debate todo o primeito capítulo para sair da cama. Se algum herói de Von Trier se transformasse em inseto ficaria imóvel até que uma lata de Baigon gigante o borrifasse. Ou uma criança viesse lhe arrancar as patas uma a uma com uma serra elétrica. Wenders faz anjos virarem gente apenas pelo prazer de sentir. No mundo de Von Trier os anjos têm o prazer de matar. No mundo de Von Trier o único final feliz é uma overdose de Prozac.