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« Hoje acordou todo torto. Um monge com tosse, em posição de flor de lótus. Despertou canhoto ; ontem fora doutor em direito. Olvidou o sonho, molhando o rosto. Lembrou o ofício, por distração.(1) Foi por rumo o processo matutino. Porra do sonho voltou no elevador. Só o sentimento, não o ocorrido (onde ?). Procurou o carro, o escritório e o cúbiculo. Encontrou todos. O vizinho tossiu. Acabou ignorando o gordo sorrindo, tossindo e acenando »
(1) Parte cortada : Proletário ou oprimido, obrigado ao voto. Pretensioso, pois. Poderia mesmo governar : conhece tudo por jornal. Comentários : a frase cortada é gratuita, exagerada e tenta fazer as vezes de uma crítica social contra a classe média. O texto em si é uma tentativa (com uma certa firula na forma) de abordar um dos temas mais batidos em literatura adolescente : o massacre do homem pelo cotidiano. Fica longe de uma poesia ou do sentimento. O uso da assonância não chega a caracterizar uma opção estética, fica mais para uma brincadeira que para uma opção formal. O mais fulgurante, provavelmente, é o medo disfarçado de arrogância do autor. Colocando-se capaz de perceber as iluminações cotidianas invisíveis para seus protagonistas ele foge da esfera do próprio texto e senta, confortavelmente, em um trono de onde tudo vê. Sua frieza esconde apenas desprezo por aquilo que retrata e que, no fundo, também é. Provavelmente, no texto, se o cara visse o vizinho se lembraria do sonho (seu objetivo?). Nada mais que uma pegadinha mal desenvolvida.
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