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Ontem fui ver Revolver, o novo filme do Guy Ritchie. Pois é, bela merda, Guy. BELA MERDA. O filme vai bem e é bastante bonito, com essa estética que ele domina e que tantos copiam (com resultados nem sempre satisfatorios). Mas nao é o visual que incomoda. É o conteudo. Parece que o cara quer dar uma de David Lynch e ainda acrescentar alguma epifania de hidromassagem que teve com a Madona. A parte "aniquilaçao do Ego" é chata, besta e obvia. A historia é fraca e o filme é confuso e pretensioso. Sem a força de um David Lynch, onde o Obscuro causa mal-estar, suspense e medo, o Obscuro nesse filme é fraco, insipido e gratuito. O "nao entendi" no fim do filme surge porque a historia é mal-contada e nao porque ela é intrinsecamente "misteriosa". 2001, Lost Highway, Mullholland Drive, Donnie Darko, Solaris, para nao dizer dos Bergmans e Greenways da vida, sao filmes "dificeis" e confusos mas porque assim sao suas historias. Revolver é pretensioso, o cara comeu um livro de poker e arrota Buda. Podemos dividir os diretores (toscamente) em dois tipo basicos: "Storytellers" e "Artistes". Ambos os tipos ja fizeram coisas maravilhosas e merdas abominaveis. Nao que os storytellers nao sejam artistas, mas esses sao os que querem contar uma historia. Temos a grande tradiçao do cinema americano feita por esse tipo: Kubrick, Spielberg, Ford, Capra, Corman, Preminger, Eastwood, etc. Ja os "artistes" (à la française mesmo) preferem brincar com o meio. A historia é menos importante que mensagem e nem sempre a mensagem faz parte dela. A estética é outra historia em si mesma, a coerencia da historia que se conta em segundo plano. Ai temos Malle, Bunuel, Godard, Lynch, Antonioni, Fellini, Greenaway, Resnais, etc. Os artistes nao hesitam em colocar cenas biazrras, sentidos escondidos: se fosse pintura seriam abstratos. Claro, alguns diretores de um grupo flertam com o outro, storytellers fazem filmes artsy e artistes fazem filmes de narrativa. Mas no caso do Revolver ficou claro que uma historia simples e pé no chao tentou ser torcida e esticada até soltar um peido de subjetividade filosofica. E fedeu para caralho. Coisas mais felizes: descobri o gênio Preminger. Seu filme mais conhecido deve ser "O homem do braço de ouro" com o Sinatra. O Cardeal, O Fator Humano, The moon is blue, 23 Skidoo, Where the sidewalk ends, Anatomia de um crime, Angel Face, In Harm?s way e Laura, foram os que eu vi. Ele tem mais, ainda bem. Nenhum é sequer mais ou menos. Nenhum é sequer bom. The moon is blue é mais simples, baseado em teatro mas com um David Niven ironico, perfeito como pai solteiro e cinico. Where the sidewalk ends é muito simples também, sem grandes atores ou cenarios mas perfeito exemplo de film noir. O fator humano, seu ultimo filme, é um dos mais impressionantes filmes de espiao que ja vi. Sem nenhuma perseguiçao ou armas, mostra o espiao na burocracia mas nem por isso menos tenso ou ameaçado. O cardeal é um épico, todo em flashbacks, com luz e atores perfeitos. Sua maior qualidade sao os dialogos. Em alguns dialogos (Sinatra e a garçonete na boate, o ultimo dialogo de human factor, qualquer fala do john huston em o cardeal) o clima é mais voyeuristico que qualquer Hitchcock porque a intimidade nao vem de algo tao vulgar quanto uma teleobjetiva na janela do vizinho mas de uma atuaçao impecavelmente naturalista dos atores e de um dialogo perfeitamente corriqueiro em ambientes simples. E com suas historias tristes e simples ele consegue transmitir muito mais que com a espiritualidade de iogurte natural do marido da Madona.
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