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Agora aqui tem propaganda de curso de ingles, letra de musica e etcs. O texto que segue é do Excelentissimo Sr Guilherme Lessa, escriba do extinto Escrotorio e amigo pessoal. Ele acha que isso aqui fala de cinema, entao pediu preu por. Sem problemas, quem sabe umas escrotetes ainda vem aparecer aqui e fazer meu counter ultrapassar os 20000? Sem mais delongas, com vcs, Lessa falando do Wes Anderson: ZISSOU (AINDA) NÃO É ZIZOU Recentemente assisti ao último filme de Wes Anderson, diretor quase tão desconhecido do grande público quanto paparicado pelos entendidos de cinema da zona sul de Belo Horizonte. "The Life Aquatic by Steve Zissou" é, não há como negar, surpreendente em quase todos os seus aspectos. Mas, ao contrário do que pode imaginar o leitor, o surpreendente a que me refiro não é necessariamente uma qualidade. Basta, para entender o que digo, rememorar a partida entre Atlético e Fortaleza, ano passado no Mineirão. Eis o que aconteceu: nos últimos sete minutos do tempo regulamentar, o time cearense reverteu um placar maiúsculo que, para muitos, era definitivo. Com os 3 a 2, os conterrâneos de Fagner deixaram um Magalhães Pinto atônito, emudecido, de fraldão e chupeta, chorando a certeza do mergulho para a Segunda Divisão. Sim, eu me referi diretamente a Lars Von Trier no parágrafo anterior. Explico: perceba a falta de constrangimento do dinamarquês ao subir no banquinho, dedo em riste, gritando: "Vou fazer uma trilogia anti-americana!" Confesso que escorreu-me queixo abaixo a baba espessa da preguiça. E ouço dizer agora, em conversa análoga, que o próximo filme de Spielberg será sobre... judeus. Isso mesmo, judeus e seu sofrimento infinito na Segunda Guerra. Não sei por que Hollywood tem essa obstinação maluca de me enfiar o uniforme de Hitler. Não tinha notado, mas noto agora: sempre que eu fico com pena dos judeus, sempre que me culpo pelas atrocidades cometidas contra eles, alguém ganha o Oscar nas minhas costas. Vou tentar ser mais claro: não há mais espaço, assim acredito, para os grandes temas numa agenda cultural minimamente inteligente. O PT não é esquerda, os judeus não são os vilões do Oriente Médio, os católicos não são os coitadinhos da Irlanda, os argelinos não querem se integrar à sociedade francesa, os heterosexuais não detestam os homossexuais, os japoneses não praticam mais o canibalismo. Um pouco de Fukuyama sempre é bem vindo. A história pode até não ter acabado, mas no mínimo já está repetitiva e desinteressante demais. A grande epopéia humana, se não chegou ao fim, prescinde orgulhosamente de deuses ou métrica. Mas eis que, em meio a filmes cuidadosamente embalados e arroubos de engajamento inócuos, aparece um Wes Anderson desinteressado nos grandes temas. Um Wes Anderson que, antes, preocupa-se com a congruência entre estética e narrativa, forma e conteúdo. Várias vezes, em Zissou, não sabemos ao certo onde a cena se passa, não compreendemos muito bem a relação entre os personagens, não sabemos se podemos rir ou se a tentativa fracassada do beijo clama pela generosidade do condoer-se. As informações sobre cada filigrana dramática aparecem sob a forma de uma enxurrada impiedosa. Em outras palavras, Wes Anderson sacaneia os espectadores que preferiram acostumar-se, ao longo dos anos, às narrativas que tratam seus receptores como ratos de um B.F. Skinner. Tem seu mérito o diretor da saga da família Tenenbaum e das expedições de Steve Zissou, mas não podemos apressar as coisas. Diz-se, muitas vezes, que Michael Schumacher só é heptacampeão porque seus concorrentes são uns carroceiros promovidos a pilotos. Tenho a mesma suspeita com relação a Wes Anderson. Certamente, Wes Anderson já está usando a camisa dez do Fortaleza. Mas isso ainda não faz dele um Zidane. No cenário do cinema atual, o diretor-roteirista propõe coisas diferentes, mas que são mais legais por conta de um certo ar de novidade do que pelo primor per se. É claro que espero que ele continue desenvolvendo a linguagem histérica que todos tivemos a felicidade de ver tomando forma. Se isso acontecer, talvez tenhamos uma chance maior de banir, para sempre, coisas tediosas como a Segunda Guerra Mundial das nossas salas desconfortáveis de cinema.
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