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Festival em Angouleme, extensao da Teoria do Autor lessiana e pé de pagina hermético sobre Seinfeld. O festival da BD (HQ) em angouleme é o maior evento de quadrinhos da europa. Devido a quantidade de neve que caia por todas as 24 horas de sabado e que continuou, menor mas ainda agressiva, pelo domingo, nao vi nada do que se passou. Ano passado tive um album do Fat Freddy's Cat autografado pelo Robert Shelton. E mais porra nenhuma. Fora as festas. Maldita invasao dos mangas. Esse ano nem festa teve direito. Ano passado rolou até de penetrar numa festa no castelo da prefeitura (na França, todas as prefeituras sao em castelos medievais, caso haja algum na cidade). Como pode parecer (e é a mais pura verdade) so saio de casa pra ir pra escola. E em casa, jogo poker online e vejo filmes e seriados. Basicamente. Pode parecer tedioso e é. Fazer o que? Inverno é assim mesmo. Mas vamos la, comentar sobre my own private version of Prozac. Esse foi sem precedentes: Primeira temporada de Nip & Tuck em uma noite. Toda, menos o primeiro episodio que ja tinha visto antes (ao final do qual, o parecer negativo da Sheyla me obrigou a deixar o resto da temporada para um momento mais solitario). O momento chegou e assisti tudo de uma vez so. 11 episodios de 43 mins e um de 95, perfazendo um total de uns 560 mins, praticamente dez horas que começaram a noitinha de quinta e terminaram quase ao nascer do sol de sexta. Apesar de nao me ter frustrado como Lost ou Alias, devo dizer que nao é grandes coisas. O senso de humor, bizarro no começo, se mostra bastante caretinha com uma analise profunda. O gore das cenas de operaçao é gratuito e a maluquice do cotidiano (avo maconheira, o menino que perde a virgindade num menage a trois) é um belo dum cliche. A parte drama nao merece comentarios, é melhor ver Sweet November . Os personagens principais tentam ensaiar uma profundidade mas os cliches psicologicos dao ansia de vomito: Dr Troy, que come todas sofreu abuso sexual na infancia, Dr McNamara, o caretinha, mantém sua familia e sua vida porque é bunda demais pra tentar mudar as coisas: no final é ele que vira « homem » e confronta o Mal encarnado em um traficante colombiano. Mas é assistivel (sem grandes expectativas) e me distraiu um bocado. Revi Kill Bill vols 1 e 2. No começo do filme ele explica o que vai fazer: homenagem a filmes de blackxploitation e de kung fu. As telas de introduçao: uma dos Shawn Bros e a outra direto dos anos 70. Ele refaz esses filmes mas com uma fotografia impecavel. Ele junta todos os lugares-comuns dando ao filme um ar de deja-vu. Ele cria também pequenas cenas para dar um minimo de profundidade aos personagens (Budd trabalhando de leao-de-chacara). E ele usa tres iluminaçoes perfeitas pra grande cena de luta do vol 1 (a melhor de toda a saga): cor normal, p&b e a escura, vultos contra um fundo azul. Tecnicamente, ele se prova um mestre. O conteudo também: uma vez que « grandes artistas fazem referencias, genios copiam ». (Nao que eu diga que Tarantino seja genio, a frase é do Picasso). Mas ai chegamos no ponto. Tarantino tem estilo? No sentido Jim Jarmusch ou Wes Anderson da coisa, creio que nao. Porém, no sentido Lars von Trier da coisa (e ai, de uma perspectiva Lessiana da coisa), ele tem. E muito. O conteudo é basicamente reciclagem de cliches (em ambos os casos) e a estética é uma festa. Os caminhos sao diferentes, cliches de esquerda e de « o homem é o lobo do homem » no depressivo e cenas de filmes Bs no verborragico. Estética hiper-minimalista, cortando todo o superfluo e mantendo apenas o essencial que serve a historia (incluindo ai as mudanças de luz e de plano que insinuam sentimentos e emoçoes para platéia) de um lado e o excesso de detalhes e de referencias do outro, no qual o filme se apresenta como um parque de diversoes onde a qualquer momento um olho atento pode encontrar o Mickey virando a esquina. Mas essencialmente, acredito, estao de maos dadas. E longe da idéia de « contar outra historia ». Na verdade Kill Bill e Dogville sao dois filmes de vingança. Os dois acabam com a consumaçao da mesma. A de Kill Bill dura um filme inteiro, e os motivos revelados em flash back. Em Dogville é o tempo linear em crescendo culminando na vingança (nao menos sanguinolenta). Pessoalmente eu odeio Dogville pela sua moral crista (e apenas por esse motivo) e adoro Kill Bill pela sua exuberancia visual (e nao apenas por isso). Kill Bill é, em grande parte, o que Natural Born Killers queria ter sido. Mas Natural Born Killers se perde querendo ser sério e fazer a critica da midia. Acabando a temporada 5 de Seinfeld também. Até agora mantendo a sequencia correta. Definitivamente, a melhor série de comédia de todos os tempos. Obvio e evidente mas fato. Kramer e George sao os dois arquétipos dicotomicos perfeitos: o segundo se sujeitando ao mundo, implorando e se desdobrando por aceitaçao de seus iguais, o conformismo encarnado. O primeiro é um principe, ao qual o mundo naturalmente se curva e entrega de bom grado seus desejos, sem que ele faça o menor esforço pra isso. As vezes me pergunto quanto de cabala deve ter estudado Jerry Seinfeld e quanto de ensinamentos herméticos nao estao nesses arquétipos. Obviamente é tudo uma questao de perspectiva, ou de « descascar a cebola », como diria Crowley. A Piada Universal é a Tristeza Universal e para Frater Perdurabo-Seinfeld os dois sao os amigos que vem visita-lo ao mesmo tempo.
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